Policial penal é preso após atirar em entregador do iFood no Rio de Janeiro
A Polícia Civil do Rio de Janeiro prendeu no domingo (31) o policial penal José Rodrigo da Silva Ferrarini, acusado de atirar no pé do entregador de aplicativo Valério Júnior. O caso aconteceu na noite da última sexta-feira (29), em Jacarepaguá, na zona oeste da cidade, após o trabalhador se recusar a subir até o apartamento para entregar um pedido.
O mandado de prisão temporária foi expedido pelo Plantão Judiciário do Tribunal de Justiça (TJRJ). A Secretaria Estadual de Administração Penitenciária (Seap) determinou o afastamento de Ferrarini por 90 dias.
Discussão registrada em vídeo
Toda a discussão foi filmada pela vítima, incluindo o momento do disparo. Nas imagens, é possível ouvir o policial penal exigindo que o entregador subisse até o apartamento. “Você não subir é uma parada!”, disse Ferrarini segundos antes de atirar. Após o disparo, Valério, com o pé sangrando, afirma: “Eu moro aqui, cara! Eu sou morador, cara!”.
O projétil ficou alojado no pé direito da vítima, que ainda não sabe quando poderá voltar ao trabalho. Segundo a política do iFood, entregadores não são obrigados a subir até os apartamentos.
Em depoimento, Ferrarini alegou que o disparo teria sido acidental. A versão, no entanto, foi contestada pelo delegado Marcos Buss, da 32ª DP (Taquara). “Uma pessoa que aponta uma arma de fogo para outra, seja em qualquer parte do corpo, e puxa o gatilho, no mínimo assume o risco de causar a morte”, declarou.
Apoio ao entregador
Em nota, o iFood lamentou o episódio e afirmou que está oferecendo suporte social, jurídico e psicológico a Valério Júnior. O atendimento será realizado em parceria com a organização de advogadas negras Black Sisters in Law.
A empresa também reforçou que, desde 2024, promove a campanha “Bora Descer”, incentivando clientes a irem até a portaria de seus condomínios para retirar pedidos.
Debate sobre legislação
O caso reacendeu o debate sobre a segurança de entregadores de aplicativo. Está em análise na Câmara dos Deputados o Projeto de Lei 583/24, de autoria do deputado federal Tarcísio Motta (Psol-RJ). A proposta estabelece que entregadores não sejam obrigados a subir até unidades habitacionais ou comerciais, cabendo às plataformas informar os clientes dessa regra.
Segundo o parlamentar, a lei é “fundamental para garantir a vida, a segurança e as condições de trabalho dos entregadores de aplicativo”. O PL prevê ainda que, em casos de clientes idosos, pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida, a entrega possa ser ajustada previamente.
FOTO REPRODUÇÃO TV GLOBO